O tempo quaresmal vai, desde quarta-feira de cinzas até à Missa da Ceia do Senhor (quita feira).
1- Jesus evangelizou, e instituiu a Igreja (Mt 16, 18-20), mas nada determinou quanto ao modo de viver, liturgicamente, a Eucaristia e os sacramentos. Não determinou um tempo litúrgico. Foi a própria Igreja, caminho fazendo e militando a Palavra do Senhor, os gestos do Mestre, que mandou celebrar, por primeiro o domingo, dia da ressurreição do Senhor, em lugar do sábado, da lei veterotestamentária. De fato, somos discípulos de Cristo e não de Moisés e Jesus é a perfeição da lei. Portanto, por primeiro se celebrou o domingo, depois a Páscoa e, somente mais tarde, o Natal. Como desejava, tornar essas datas, verdadeiramente determinantes, fê-las preceder de um apropriado tempo de preparação: advento e quaresma.
2- Quaresma: tempo de preparação para a Páscoa ou a ressurreição do Senhor. Esta (Páscoa), deve ser vista e vivida, como o maior acontecimento do cristianismo. Cristo morreu, mas ressuscitou, vencendo o pecado e a morte. O maior pecado é, hoje, o mundo ter perdido a autêntica noção de pecado. Este, ao menos, na forma mais grave, separa o pecador de Cristo e dos irmãos, inviabilizando a salvação, que Jesus, com tanto sofrimento e cruz, nos mereceu. Vivemos na pós-modernidade, que é tempo de secularização e de insensibilidade para com as coisa de Deus, do cristianismo, mormente da Igreja.
3- A quaresma é, então, tempo de preparação, de oração, de conversão, de audição mais frequente da Palavra, pessoal e eclesialmente. Recordo, ainda, a existência do verdadeiro jejum, da penitência, abstinência de carne. Ela é, também, tempo especial para redescobrir o sentido do sofrimento e da morte do Senhor, bem como, perceber melhor a maldade e crueldade do pecado grave, redescobrindo, sobretudo, a grandeza do amor de Deus, por nós (1 Jo 4, 8-20). Deus é amor e não um tirano, como afirmam alguns agnósticos.
4- A CF (Campanha da Fraternidade) é uma pedagogia especial da Igreja, para o tempo quaresmal, sublinhando, assim, a dimensão social da fé. No
entanto, friso que o essencial, na quaresma, é vivenciar o amor, o sofrimento de Cristo por nós. Redescobrir, então, o alcance da fraternidade. O individualismo e a ganância destroem a verdadeira vivência do Evangelho. Isto é uma calamidade. Nesse ano, o tema da CF é: “fraternidade e amizade social”. O lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8).
Desejo a todos, uma fraterna celebração dessa campanha, nesse sugestivo tempo quaresmal.
+ DOM CARMO JOÃO RHODEN, SCJ
Bispo Emérito de Taubaté- SP