Eu estou vencendo a Covid-19.

Recentemente creio que tive a pior experiência da minha vida.

Meu nome é Abel Chicora. Tenho 36 anos, saudável, magro, sem qualquer doença ou comorbidade. Desde o início da pandemia sempre me protegi, cumpri isolamento social, usei máscara, álcool em gel, mas, de alguma maneira me descuidei e acabei pegando o vírus.

Minha experiência foi a seguinte: no final de fevereiro comecei a sentir alguns sintomas (tosse seca e febre alta). Fiz o teste e confirmado Covid. Segui orientação médica de isolamento, mas na segunda-feira dia 01.03.2021 precisei de atendimento médico. Fiz a primeira tomografia e apontou comprometimento de 25% dos pulmões. A expectativa era de melhora, então foi determinada medicação, isolamento e repouso em casa, o que cumpri rigorosamente.

Na quarta dia 03.03 já amanheci muito mal. Retornei pro hospital e fiz uma angiotomografia, aonde agora apontou comprometimento de mais de 50% dos pulmões. Determinada internação. Hospital não tinha vaga. Conseguimos por um milagre a última vaga covid no Hospital do Coração Bom Jesus aqui em Ponta Grossa. Internei na quarta a noite mesmo e a cada dia meu quadro clínico piorava.

Tive crises de febre, vômito, diarreia, baixa oxigenação, todos meus exames de sangue apontavam extrema infecção.

No sábado de madrugada tive uma crise na qual por pouco não fui intubado. Foi determinada minha transferência para a UTI e fazer outra tomografia, que apontou, infelizmente, comprometimento de 80 a 90% do pulmão. Clinicamente minha situação era totalmente crítica. Nesse momento as esperanças diminuíram e o desespero tomou conta do meu coração. O sofrimento era absurdo, dores constantes no corpo, nos acessos, para fazer os exames, crises de pânico me deixavam absolutamente descontrolado e ansioso, febre e vomitava qualquer coisa que tentava ingerir.

Graças a Deus quando fui para a UTI no domingo aos poucos fui melhorando, graças à muita medicação para controlar os sintomas e fisioterapia respiratória, e na quarta-feira consegui comer pela primeira vez um pouco de sopa... por um milagre meu corpo respondeu bem ao tratamento medicamentoso e à fisioterapia.

Na quinta-feira saí de alta para continuar o tratamento em casa, pois passado os piores sintomas da Covid o risco agora era pneumonia, algo bem comum em ambiente hospitalar e nos pacientes com a doença.

Graças a Deus estou cada dia melhor, em casa, fazendo todo o tratamento fisioterapêutico, isolado em casa e aos poucos me recuperando.

Nunca tive nenhum problema de saúde e por um milagre estou vivo e me recuperando.

Ainda não me esqueço das equipes (totalmente escassas e exaustas) correndo na enfermaria, pois tinham pacientes em crises, com parada cardíaca, precisando ser intubados, chorando e sofrendo, simplesmente terrível. Creio que a pior sequela que essa doença deixará em mim, é o trauma de presenciar tanta gente morrendo por uma doença cruel e ainda sem cura.
Tive notícias que eu fui o único dos 34 que estavam na UTI que não precisou ser intubado (por um milagre) e um dos poucos sobreviventes dessa turma. Agradeço a Deus e a todos os que cuidaram de mim, a todos os que incessantemente rezaram pela minha melhora.
Um agradecimento especial à toda equipe médica, técnicas de enfermagem, enfermeiras, fisioterapeutas. Um agradecimento especial ao Dr. Tiago Merini que tratou e cuidou de mim, embasado em muita ciência e toda experiência médica no tratamento com pacientes de Covid. Agradeço também ao dr. Marco Moutinho, diretor técnico do Hospital do Coração Bom Jesus que se desdobra incansavelmente para dar toda assistência aos pacientes do hospital. Agradeço ao meu companheiro Dr. Lauro Koehler que esteve o tempo todo junto comigo na internação, sendo médico, enfermeiro, amigo, companheiro e grande incentivador para minha melhora.

Creio e espero que este depoimento possa, de alguma maneira, conscientizar as pessoas. A única coisa que salva as vidas no momento são as medidas de distanciamento social, higiene, máscara e álcool em gel, que evitam o contágio e a propagação do vírus.
Espero do fundo do meu coração que ninguém precise buscar tratamento hospitalar, pois o sofrimento é absurdo e as possibilidades de cura ainda são incertas. A vacinação está lenta demais. As equipes médicas fazem o que podem, mas todos estão exaustos.
Covid mata, e mata muito rápido e de maneira rápida e cruel.

Ainda estou me recuperando e fazendo todo tratamento, pois espero não ter nenhuma sequela dessa doença. E espero, também, que ninguém passe por essa experiência.
Se cuidem e cuidem dos que vocês amam. Não relaxem, estamos na pior fase de contaminação e contágio. Sejam neuróticos e exagerados nos cuidados, não aglomerem, nem com os membros da família e parentes, fiquem em casa o maior tempo que puderem.
Sou um milagre!